7/29/2007

Faqueiros

Perdi a paciência com os meus faqueiros.
Perdi toda a minha paciência a organizar os meus faqueiros,
os meus extensos faqueiros dourados.
Organizar os faqueiros por categorias, contar os talheres, limpar, contar de novo.
12 colheres de sopa, 12 facas de carne, 12 facas de peixe,
12 garfos de carne, 12 garfos de peixe, 10 colheres de doce,
11 colheres de café…
Contar outra vez, perder talheres, ficar com o faqueiro incompleto, irritar-me e guardar tudo nas gavetas da sala de jantar;
desde a colher de café ao garfo de peixe.
Assim, não é difícil ser histérico.

3/09/2007

360 degraus

Gosto de virar os caixotes do lixo ao contrário.
Gosto de ver os caixotes com 4 rodas em destaque.
Quatro rodas viradas para cima.
Tenho 60 degraus diários para subir.
Tenho 60 degraus diários para descer.
Degraus por obrigação.
Em média meus pés percorrem 360 degraus.
120 vezes esses degraus tem um objectivo.
Esse objectivo é deitar o lixo no caixote.
Lixo vai, lixo fica.
O meu não fica.
Chego aos caixotes e não existem tampos, só rodas, caixotes sem tampo.
É estranho... não são então caixotes.
Subo as escadas. 180 degraus.
Gosto de virar caixotes do lixo ao contrário.
Gosto de ver os caixotes com 4 rodas em destaque.
Quatro rodas viradas para cima.
Gosto dos caixotes sem tampo.
Não gosto de lixo.
Muito menos de subir escadas.

2/15/2007

Eugénias

Eugénias sofre de falta de coordenação. Ora coordenação, afirma, é coisa que ela não tem, mas por vezes gostava muito de ter, agora um exemplo, tipo às 9.00 no café, quando lhe perguntam, “menina, o que deseja?”.
Mas no fundo, quer dizer... nem é preciso ser no fundo, esta história da falta de coordenação...até lhe faz bem.
Mas afinal o que é isso da coordenação, ora, chamam de “Coordenação motora a capacidade de coordenação de movimentos decorrente da integração entre comando central –cérebro
- e unidades motoras dos músculos e articulações
”.
Já começa, ao ler uma coisa destas, Eugénias fica confusa, demora quase 3 minutos a tentar articular isto tudo. Mas voltando à falta de coordenação, ela sofre muito com isso, sofre mesmo muito porque faz figura de parva durante o dia quase todo. Vejamos, ela começa logo de manhã (agora três exemplos de enfiada).

Um caso constante: ela tem fome, ela sabe onde tem de se deslocar para se alimentar, sabe mais ou menos o que quer, e quando está a segundos de se alimentar...baralha-se. Já não sabe o que comer, nem o que quer, nem o que está a fazer, onde está; acaba por pedir o de sempre, a sorte é que ela é forreta e pede sempre das coisinhas mais baratas, senão era um prejuízo.

Mais situações, Eugénias tem de ir a retrosarias várias vezes por semana, é muito trabalhadora. Estas idas à retrosaria “Adriano” são logo pela manhã. A loja abre, mas ela já lá está especada 10 minutos antes de a loja abrir, a olhar para a montra Ela tem muito mau acordar, acorda com aquele ar de ressaca ou de gripes (acorda sempre muito doente), e tem de se deslocar nesta figura (com amostras de tecido) a uma lojinha, onde todos os empregados são uns senhores “velhinhos”. Entra muito feliz na loja e concentradíssima no que vai fazer ("fitinhas de veludo, fitinhas de veludo, metros delas, metros..."), e diz, “Olá! Bom dia! Olhe, eu quero... ora, eu quero, o que eu quero mesmo, sabe… não sabe, claro eu ainda não disse… mas afinal… afinal o que é que eu quero?”. E é nestes modos que Eugénias se dirige a um senhor com idade para ser seu avô, que delicadamente lhe pergunta o que è que ela quer, mas lá dentro (lá dentro, ou seja, na tola do senhor) pensa, “esta criatura não regula de certeza, drogada”. Assim ela pede ao "Senhor" um minuto, para se lembrar do que queria, e lembrou-se, e pediu, e comprou. Saiu muito envergonhada da loja. E é quase sempre isto nas retrosarias.

Mas isto não acontece só de manhã (desculpa do sono e das gripes), aqui vai um caso nocturno (a desculpa será o cansaço)de Eugénias. Certa noite estava num café com um amigo, e resolve sacar de um cigarro e pumbas, lume no cigarro.
Nisto, cai a sua mala de pano cru e ela nem repara, e o seu amigo avisa: “ caiu-te a mala”, e assim feita animal, lança-se direitinha para a mala e apanha tudo. Quando se volta a sentar decentemente, o seu amigo olhava-a com um cigarro na mão. Ora ela jurava que não percebia nada. “Mas eu acendi um cigarro? Quando? Não, esse cigarro não é meu?” Em negação constante estava ela. Mas era verdade ela largou o cigarro na mesa, em cima de toalha de papel, já com as marcas das bases dos copos de cerveja. “Mas que bonito”, pensava Eugénias. Mas ela realmente não se lembrava de nada, e o pior, é que entre o cigarro e a mala, surgiu uma bifana (nojenta, com pão de 2 dias) pela ala direita do tasco, e ela também não se lembra (foi um sinal).

Mas se calhar isto da Eugénias, não é uma questão de coordenação, é uma questão de prioridades.

2/13/2007

Denontie Secrete

2/10/2007

sim

2/03/2007

Estevão vai ás compras

Olá, o meu nome é Estevão e sou uma pessoa muito normal, mas para que saibas sofro de tantos males como uma pessoa qualquer, mas para ser muito honesto eu explico-te tudo.
Para começar, tenho uma obsessão séria com “o ir às compras”. Em primeiro lugar, nunca tomo banho antes de ir ás compras, é só dentes e cara. Fumo logo um cigarro para sentir a tontura matinal. Nesses momentos de compras, tenho ataques de caspa e perco sempre uma coisa qualquer importante, por exemplo, hoje enfiei o telemovél no frigorifico, mais concretamente, dentro do saco dos bifes de perú, foi um caso sério para o encontrar. Mas isto das compras é muito mais sério, por exemplo sou capaz de ir a dois supermercados de seguida só porque os pacotes de nata são mais baratos. Mas o problema é, estes dois supermercados são bem longe um do outro, tipo 20 minutos, e eu desloco-me a pé. Estas deslocações não são pêra doce pois arrasto-me com os meus dois braços bem frágeis, e como sou baixo, limpo o chão com as compras. Faço sempre uma lista, ou duas, mas nunca compro nada do que escolho antes, porque é repetitivo, e não é muito divertido. Isto é só um bocado do que eu te poderia contar sobre mim e as compras.
Adoro os sábados de manhã, levanto-me sempre às nove da manhã. São os sábados de frutarias, floristas, jornais a cheirar a sovaco, alfarrabistas, passeios intermináveis, os sábados para mim, são autênticas feiras. É um rodopio daqueles. Acho que tudo tem de ser feito pela manhã para de tarde não fazer nada. Tipo, as compras é logo às nove. Depois o resto da manhã é a passear de sacos nas mãos, cheio de dores, indo a todas as feiras, com os espinafres a descongelarem. Adoro chatear toda a gente, pergunto os preço e chamo os vendedores todos de chupistas. AH! Também tenho de te alertar que tenho os pés tortos, por isso caio algumas vezes. Ando sempre com betadine e pensos na carteira. Por isso o “Betadine” é o meu perfume.
Outra parte interessante em mim é o Françês, frequentei durante três anos aulas de françês, um de alemão e uma catrepada deles de inglês. E durante anos recusei o Françês. Agora tenho um problema grave, como os livros estão caros como tudo, compro sempre os “Livre de Poche”, todos os escritores que gosto escrevem em françês, assim tenho uma pilha de livros que não consigo perceber. Mas apesar disto, compro na mesma, então não, é que não passam dos 5 euros e tem mais de 200 páginas, é bom. “Rêvait d’un scalp resplendissant de brillantine,(...)” – “ (...) um cabelo brilhante de brilhantina”, como vês um tipo astuto e esperto. Quando as pessoas francesas me pedem direções, aponto para todo o lado, e abano com a cabeça sorrindo e dizendo “de nada, de nada...”.
Dormir bem, só no cinema, sou óptima companhia, vou sempre que me pedem, e estou sempre caladinho. Durmo muito bem nos cinemas, e sou muito discreto quando me sento na primeira fila. Mas fico bem em todos os lugares da sala (C5, F11, etc).
Estas, penso eu, são as minhas caracteristicas mais interessantes, mas dizer que cozinho muito bem baba de camelo, faço excelentes tartes, nunca me vesti de mulher no carnaval, adoro praia e cerveja, e tenho uma caixa de costura cheia de linhas coloridas e colchetes, não deve alterar nada a tua opinião.
Espero então, que me respondas em breve, para combinarmos um café.
Um forte abraço para ti minha doce Hipólita.

1/13/2007

Supermercado

Não chorei daquela vez nem da outra, não chorei pelo cão do vizinho, não chorei quando parti o meu cinzeiro preferido, não chorei quando o dia me correu mal, não chorei quando estava mesmo triste. Não chorei naquele dia, não chorei naquela semana, não chorei o mês passado, já não choro quase à dois meses. Quando digo chorar, digo prantos, não digo uma lágrima ou outra. Chorar é ficar com a cara vermelha, fungar, soluçar, é estar acompanhado de um pacote de lenços, é não conseguir parar até ficar absolutamente exausto. Por tudo isto, eu sei que um dia destes, por um motivo bastante pequeno, vou chorar por tudo o que não choro à dois meses, e tudo isso porque alguém me chamou de palerma, porque vi um filme cheio de tragédias, porque espetei uma agulha no dedo, porque parti a garrafa de azeite, poque sou pequeno demais para carregar os sacos do supermercado, ou simplesmente porque não aguento mais. Agarro na lista de coisas pelas quais ainda não chorei, e terei uma choradeira fabulosa de meia hora. Daqui a dois meses haverá mais. Até lá, vou juntando.